segunda-feira, 20 de julho de 2009

Capítulo um: Chuva.

Merda! Foi o que eu pensei quando chutei o pé da mesa do escritório onde trabalhava,
Só pode ser a maldita Lei de Murphi, quem diria que depois daquele calorão iria chover em plena Sexta, quando eu estava praticamente implorando para os céus por uma noite estrelada? E agora isso, quase que arranco meu dedão do pé. Calma, calma, já são 15h55min, mais 5 minutos e estarei livre desse inferno.
- Pessoal, como estou bonzinho hoje, vou liberá-los mais cedo, podem ir embora – Meu chefe, Willian, começou – para suas casas! – e finalizou o pequeno discurso com uma empolgação irritante acompanhada de uma piscadela pra mim.
Bonzinho? Nos liberar 5 minutos mais cedo é bonzinho? Claro, Willian, seu terreno no céu já está comprado, e vai pro inferno com sua piscadinha.
- Ai, Seu Moraes, assim eu fico sem graça – Urgh.
Joguei as minhas coisas dentro da bolsa, peguei o Guarda-chuva atrás da porta e saí de dentro do prédio.
Quando botei os pés na rua, meu humor de ruim foi pra péssimo, caía uma chuva com pingos grossos, contínua, o mais estranho que ela caia exatamente de forma vertical, não havia vento, da maneira que suas gotas saiam das nuvens, tocavam o chão. Era uma chuva bonita, eu poderia até admirá-la, se não estivesse nela. Funguei como uma criança birrenta e desci os cinco degraus da escada da porta de entrada. Meu carro estava estacionado logo em frente, comecei a procurar minhas chaves dentro da bolsa, anotação mental: comprar uma bolsa menor. Achei a maldita chave, balancei a cabeça como um cachorro pra tentar tirar o excesso de água do meu cabelo, e , quando minha visão ficou limpa, eu o vi.
Ele estava do outro lado da rua, exatamente em minha direção, usava um sobretudo preto que ia até seus pés, havia um sorriso singelo em seus lábios, seus olhos, ah, seus olhos eram aterrorizantes! Se os olhos são as janelas da alma, aquele homem não tinha nem vestígios de uma; nas mãos segurava um guarda-chuva aberto, como todos segurariam em uma chuva daquelas, mas a impressão que tive era que aquilo não passava de um acessório, se estivesse sem ele, não se incomodaria com a chuva, ela não lhe afetaria, ele que faria mal a chuva. Eu fiquei petrificada, presa em seu olhar, e, só para completar o cenário de filme de terror, um relâmpago cruzou o céu quando o encarei diretamente. Aqueles olhos frios, e, ao mesmo tempo, incandescentes, me senti nua, pareciam me radiografar, não consegui definir a cor de seus olhos. Talvez verdes ou azuis, não importa a cor, eram olhos cruéis. Eu tremi.

Talvez o relâmpago tenha me despertado do pequeno transe que entrei quando o encarei ficando presa em seu olhar ou meu instinto de sobrevivência tenha o feito, quem sabe, só sei que a situação ficou ainda mais estranha quando notei que só havia eu e ele na rua, mesmo num horário de pico. Ele, do outro lado, com seu guarda-chuva preto, negro, mórbido. Eu aqui, com meu guarda-chuva vermelho, escarlate, vivo. Essa analogia não me ajudou muito no fator tremedeiras
Um medo irracional me dominou, entrei às pressas no carro, pisei no acelerador e fui em frente, quase estourando o limite de velocidade. Me permite a dar um olhada no retrovisor, ele ainda estava lá, na chuva contínua,imóvel, me encarando. Me distraí com um gato preto cruzando a minha frente, olhei novamente pro retrovisor, o homem havia desaparecido como fumaça, um arrepio desceu pela minha espinha.
Num impulso, peguei meu celular, disquei, e esperei. Chamou três vezes. Atenderam -
- Alô, Gustavo?Aconteceu algo muito estranho comigo hoje... Me ouve e dá sua opinião...

E relatei tudo o que aconteceu desde que saí do prédio. No momento em que a narrativa alcançou o homem-do-guarda-chuva caí num choro repentino.

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